Depois da fase de reabilitação após um acidente vascular encefálico (AVE), é comum que as pessoas afetadas apresentem temor para retornarem aos seus afazeres cotidianos e à vida social.
Nesse sentido, o Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência e ao Idoso (Ciapi) criou o grupo de “Atividade Instrumental da Vida Diária” (AIVD), comandado pela terapeuta ocupacional Neorinete Campos Graves, a Nori, com o objetivo de garantir a autonomia e a independência, a preparação para atividades cotidianas e a contribuição para o bem-estar social dos usuários do Ciapi no pós-AVE.
“Nosso trabalho é biopsicossocial, ou seja, a gente desenvolve ações a partir de fatores biológicos, psicológicos e sociais trazidos pelo paciente. A evolução dos grupos tem sido muito gratificante”, disse Nori.
As sequelas físicas, provenientes do AVE, como o movimento de pinça das mãos, dificuldades de raciocínio e memória, são trabalhadas em jogos variados, propostos durante os encontros; assim como as emocionais – angústia, depressão, pânico, desencadeadas após a doença.
Um dos grupos é formado por Eneida Aparecida Tavares, 60 anos, Márcia Regina Rodrigues Alves, 61 anos e Roseane Belculfine, 66 anos.
“Tive a fala comprometida e o lado esquerdo ficou paralisado. Com muita fisioterapia já recuperei bastante. Aí veio a pandemia e o isolamento me deu um pouco de depressão. Estar nesse grupo (AIVD) me proporciona um ganho progressivo e me dá motivação. Também faço aulas de Pilates no Ciapi”, contou Márcia Alves.
A colega Roseane passou por três AVEs que afetaram movimentos do lado direito e esquerdo, memória, visão. “Aqui exercito memória, visão, raciocínio e ajuda a me comunicar, pois me sinto mais relaxada. Gosto muito de estar aqui”, declarou.
Já Eneida teve dois derrames. O segundo, em 2017, a deixou em uma cadeira de rodas e sem a fala. Com muita força de vontade e fisioterapia, hoje, dá conta sozinha de se locomover, cozinhar, fazer os afazeres domésticos, entre outras ações. “No Ciapi, além da atividade Instrumental da Vida Diária, faço academia. Realmente estar nos grupos do Ciapi me dá ânimo para enfrentar os desafios da vida”, afirmou.
Sobre o AVE
De acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, a cada hora 11 pessoas morrem por consequências de acidentes vasculares encefálicos (AVEs) no País.
O AVE acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.
Quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento do AVE, maiores serão as chances de recuperação completa. Desta forma, torna-se primordial ficar atento aos sinais e sintomas e procurar atendimento médico imediato.
Existem dois tipos de AVE: hemorrágico e isquêmico.
O hemorrágico ocorre quando há rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia. Esta hemorragia pode acontecer dentro do tecido cerebral ou na superfície entre o cérebro e a meninge. É responsável por 15% de todos os casos de AVE.
O isquêmico ocorre quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Essa obstrução pode acontecer devido a uma trombose ou a uma embolia. É o mais comum e representa 85% de todos os casos.
Sintomas do AVE: fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental; alteração da fala ou compreensão; alteração na visão (em um ou ambos os olhos); alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar; dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.
Causas do AVE: hipertensão, tabagismo, colesterol alto, diabetes, resistência à insulina, obesidade abdominal, consumo excessivo de álcool, falta de atividade física, alimentação rica em gorduras saturadas, gorduras trans e calorias, estresse psicossocial (depressão), doenças cardíacas, fatores genéticos, entre outras.
Foto: Divulgação/PMC